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Por Fredi
Sem nenhum motivo, resolvi escalar hoje minha seleção de todos os tempos unindo duas paixões, música brasileira e futebol. Notem, joga no 4-4-2, com quatro meias criativos no meio de campo. Aboli os volantes por opção.
No gol, o
Santo Pixinguinha. É a posição que mais precisa de milagres e também por conta do preconceito que havia (ainda há?) com goleiros negros desde Barbosa. Com ele no gol, o jogo acaba pelo menos
1 X 0 para nós, título de uma deliciosa composição de Pixinguinha em homenagem a
Friedenreich depois de ele marcar aos 15 minutos do segundo tempo da prorrogação o gol que nos deu o título de campeão da Américas em 1919.
Na lateral direita,
Luiz Gonzaga. Para Gilberto Gil, Gonzagão seria o
Pelé da música, deveria entrar com a 10. Mas por no período militar falar bem de generais e saudá-los em shows, fica aqui na lateral direita. Mas não achem que o Velho Lua fosse reacionário ou qualquer dessas bobagens. Queria tocar sua sanfona como ninguém, seu mundo era outro. Vai também na lateral pelo fôlego e a longevidade da carreira. Como não conheço nenhuma música sua sobre futebol, vou de
Assum Preto mesmo, que adoro:
Assum preto, o meu cantar
É tão triste com o teu, Também roubaram o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meu.
De zagueiros, vão
Tim Maia e
Benjor, basicamente porque prefiro um zagueiro forte para agüentar o tranco e outro magrinho e mais técnico. Preparo físico? Hum, sei lá, mas ninguém teria coragem de encarar o síndico Tim Maia. E Benjor saberia jogar bem, conhecia do riscado, afinal compôs e gravou:
Arrepia, zagueiro
Zagueiro
Limpa a área, zagueiro
Zagueiro
Sai jogando, zagueiro
Zagueiro
Lateral esquerda, essa fica com
Paulinho da Viola, a enciclopédia do samba, criador da Velha Guarda da Portela, por analogia com Nilton Santos, a enciclopédia do futebol. Também porque prefiro um jogador criativo, técnico, capaz de inventar pelos lados do campo. Mesmo sendo vascaíno fanático, nunca escreveu que eu saiba sobre futebol, vão versos sobre a sinuca, de
Pelos 20:
Você me deixou pelo vinte
No golpe da sorte
Entre a rosa e a preta
Na mesa da vida
Você me deixou sem saída
Sinuca de bico
A preta e a rosa
Na noite perdida.
No meio de campo, como já disse serão quatro meias criativos, sem volantes. Os dois pela direita são
Caetano Veloso, perdido há muito tempo por aí, mas que já bateu um bolão em outras fases, e
Adoniran Barbosa, com suas jogadas geniais de malandro italiano do Bixiga. De Caetano, versos de Tieta:
Por debaixo do lençol
Nessa terra a dor é grande
E a ambição pequena
Carnaval e futebol
Quem não finge
Quem não mente
Quem mais goza e pena
É que serve de farol.
Pela esquerda, vão
Chico Buarque e
Gilberto Gil. Chico diz que joga bem pelada e tem das mais belas músicas sobre futebol como:
Para estufar esse filó
Como eu sonhei
Só
Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca.
Gil completaria a jogada, com:
Prezado amigo Afonsinho
Eu continuo aqui mesmo
Aperfeiçoando o imperfeito
Dando tempo, dando um jeito
Desprezando a perfeição
Que a perfeição é uma meta
Defendida pelo goleiro
Que joga na seleção
E eu não sou Pelé, nem nada
Se muito for eu sou um Tostão.
O ataque fica para dois gênios,
Tom Jobim e
Dorival Caymmi, ataque bem mais técnico e criativo que corredor, óbvio. Tom jogava com classe a cada nota. Como curiosidade a Bossa Nova começou a ganhar o mundo mais ou menos na época em que ganhávamos a primeira Copa do Mundo, em 1958, na Suécia. Tom compôs
Radamés y Pelé, melodia maravilhosa, mas sem letra.
Caymmi, que morreu neste ano, até onde conheço, não compôs sobre futebol nos mais de cinqüenta anos de muitos gols, inclusive internacionais, sendo responsável por várias composições que fizeram o sucesso de Carmem Miranda nos Estados Unidos. Para terminar uma analogia com o samba:
Quem não gosta de samba [e de futebol?]
bom sujeito não é
É ruim da cabeça
ou doente do pé...
Na reserva ainda ficam gênios como Noel Rosa, Cartola, João Gilberto, João Bosco, Milton Nascimento e outros, até porque só posso escalar onze.
Abaixo a arte de Carmem Machado para ilustrar o escrete da música brasileira.
Montagem: Carmem Machado
Por Fredi