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O ditado "é de pequeno que se torce o pepino" poderia muito bem ter o final mudado para "que se torce o fígado". Uma pesquisa recente sobre consumo de drogas entre adolescentes nas capitais brasileiras confirmou que são os pais que incentivam as crianças a começarem a beber. Em Belém (PA), por exemplo, o estudo ouviu crianças que usavam álcool antes dos 10 anos. O estudo foi elaborado em 2004 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), com estudantes das redes de ensino pública e privada. Na capital paraense, a amostra foi composta por 1.558 alunos, a maioria com idade entre 13 e 15 anos.
De acordo com o Cebrid, mais da metade dos entrevistados (57,5%) já consumiu álcool pelo menos uma vez na vida. Apesar de ser proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, muitas vezes crianças e adolescentes têm acesso a esse tipo de droga dentro da própria casa. Muitos deles vão às festas acompanhados de amigos mais velhos e acabam bebendo. "Os pais bebem na frente dos filhos e ainda mandam os meninos comprarem cerveja. A criança vai crescendo achando que beber é normal", diz Luiz Veiga, coordenador do Centro Nova Vida, entidade filantrópica referência no tratamento de dependentes químicos no Pará.
O psicólogo do Centro Nova Vida, Elton Fonseca, alerta que, na maioria dos casos, quando as famílias decidem procurar ajuda, a dependência dos filhos já está avançada. "Primeiro a família tenta negar que o filho é dependente e que precisa de tratamento. Depois, acha que só a internação resolve. Mas a família tem que ser tratada também, pois precisa saber como lidar com o usuário durante e depois do tratamento", observa Fonseca. Ele reforça que problemas de comunicação, dificuldades financeiras e falta de estrutura familiar são fatores que contribuem para o uso de álcool e outras drogas.
Eu sou um exemplo de consumo de álcool antes dos 10 anos. Meu primeiro porre, de chope, foi aos 6, num churrasco em que os adultos não estavam prestando atenção. Depois, passou a haver incentivo direto: entre os 9 e 11 anos, nos finais de semana, me permitiam beber um copinho de cerveja. Quando fiz 12, consumir bebida alcoólica já era a coisa mais normal do mundo para mim. Aos 14, os porres tornaram-se "profissionais". Mas isso cobrou seu preço: tive problemas com depressão, vontade compulsiva de beber, agressividade e, de uns anos para cá, as ressacas passaram a ser terríveis e não agüento beber dois dias seguidos, nem misturar bebidas. E acho que sou relativamente jovem para ter chegado a esse estágio...