Destaques

quinta-feira, março 11, 2010

O Santos e a arte do futebol

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Quem é o Naviraiense, perguntará o leitor ao saber da goleada de 10 a 0 que o Santos aplicou sobre o adversário na Vila Belmiro. É a mesma equipe que há poucos dias aguentou o time sensação do momento e perdeu apenas por 1 a 0, forçando uma partida de volta e comemorando como se fosse um título a ida para Santos.

Mas o destino às vezes é cruel, veja o exemplo da política. Se Geraldo Alckmin se sentiu vitorioso ao forçar um segundo turno contra Lula em 2006, provavelmente desejaria uma derrota logo de cara para não ter que passar pela humilhação de ter menos votos na segunda volta do que na primeira. Os jogadores do Naviraiense devem ter sentido o mesmo, refletindo que talvez tivesse sido melhor perder por dois a zero em Campo Grande para aliviar o sofrimento que viria depois.

Mas, como diriam os alemães, “Es muss sein!”, tem que ser assim! Os atletas conheceriam a praia, mas também se defrontariam com um time ávido, obsessivo por gols. Não só por gols, por espetáculo, por arte, por graça.

Há muitos times que conseguem goleadas contra adversários fracos ou desmotivados. Às vezes, nessas partidas legítimos pernas-de-pau se consagram marcando inúmeros tentos e até atletas que nunca marcaram fazem o seu. Difícil mesmo é manter um estilo de jogar, é encantar e, acima de tudo, respeitar o oponente como se ele fosse de fato um igual. Só grandes de verdade fazem isso. E o Santos fez.

E se Jorge Mautner já dizia que “quem segura o porta-estandarte tem arte, tem arte” o nosso artista-mor era Neymar. Desarmou, passou, deu assistência, tabelou, fez gols. Gol não, o sétimo do Peixe não era só um gol. Era uma improbabilidade física, um devaneio, uma epifania. Se existe algum grau acima de gênio, o garoto alcançou naquele momento, embora ele tenha feito parecer tão fácil desenhar o lance, tal qual um peladeiro de fim de semana na praia do Itararé.



Alguém que tenha conseguido chegar até aqui na leitura do texto deve estar pensando “mas que exagero!”. Santistas mesmo podem ponderar “melhor não ficar enchendo a bola dessa molecada, olha o salto alto...”. Aí devo invocar Manuel Bandeira, que dizia - ou gritava - em Poética: estou farto do lirismo comedido. Futebol quando é arte é feito para se admirar, para gozar, para sentir prazer. E se meu time faz isso, porque vou colher adversativas como “mas, porém, todavia...”. É preciso ser menos adversativo e mais assertivo com esse grupo que comemora cada feito com tanta alegria e desprendimento que um torcedor menos atento não conseguiria identificar no meio deles quem foi o autor do gol.

Se vierem títulos, ótimo, se não, vou mesmo assim ficarei feliz. Em 1995, desci a serra depois de sair do Pacaembu e fui comemorar na Praça Independência, em Santos, não um vice campeonato, mas o futebol que meu time jogou - e muito bem - durante aquele Brasileiro, com uma partida inesquecível. E é muito bom saber que viria um futebol ainda melhor do que aquele, como vi em 2002/03 e agora.

*****

Técnico mesmo, de verdade, é aquele que olha pros seus jogadores, enxerga as características de cada um e pensa: qual o melhor jeito desse time jogar? Sai de cena e deixa os artistas brilharem, mesmo tendo o seu dedo em boa parte do que acontece, como é com um bom diretor cinematográfico. Não quer aparecer mais do que os atores e vibra com cada atuação dos seus pupilos. Como santista, agradeço a Dorival Junior por ser assim.

*****

Veja também:

- Santos 10 X 0 Naviraiense - "Os maiores perdedores da noite foram corinthianos e flameguistas ocupados com suas partidas na Libertadores que não puderam ver a exibição santista que infelizmente não teve a pompa e circunstância suficiente para todo mundo assistir."

- Números - "Robinho 7, Neymar 11, PH 10, Madson 17, André 9 e Marquinhos 8. Como nos anos 60…"

Pequeno resumo de uma quarta-feira gorda. Pelo Twitter

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@pvcespn Em Bogotá, Corinthians fez primeiro tempo seguro. Mas Ronaldo... Não está Bozzano, não...

PVC, em momento de trocadalho (?) de dar inveja a alguns membros do Futepoca afeitos a tal prática. 

@ViniciusGrissi só podia ser piada o repórter perguntando pro goleiro do Naviraiense se tinha ficado "quase impossível" depois do 6 a 0. Gozador!
Fim do primeiro tempo, resultado desanimador para o Naviraiense. E repórter (foca?) ainda perturba...

@blablagol Ah... é contra o Navirainense? ... ... ... FODA-SE. O que está passando na Vila Belmiro é um show. Como foi contra o Corinthians
Concordo em absoluto. Muita gente já goleou time fraco sem dar show. Com gols de pernas de pau.

@AguiarESPN olha que irônico, o Santos tem mais gols do que o Naviraiense tem jogadores em campo 
Comentário feito após a expulsão do segundo jogador do Naviraiense, que começou a bater quando a vaca já tinha ido pro brejo há mais de 50 minutos.

@michelleast Boa vizinhança é tudo: acordei com a gritaria? Gol de quem? Do Santos? Rsrs 
Ponderação após o gol de empate do Corinthians contra o Independiente. 

@mariliaruiz Mano mexeu bem no time porque escalou a retranca da retranca. Essa é a verdade... 
A sincera corintiana que cornetou o Danilo e Mano Menezes atendeu colocando o talismã Dentinho.

@RodrigoBuenoESP Corinthians jogou para empatar, empatou. Flamengo jogou para vencer, venceu. Santos jogou para massacrar, massacrou. Fui!
Resumiu tudo. Gênio.

quarta-feira, março 10, 2010

Será que Belluzzo também quis culpar o elenco?

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Alexandre Lozetti, do Lance!, entrevistou na última sexta-feira o folclórico presidente do São Paulo F.C., Juvenal Juvêncio ("Não me acho folclórico. Às vezes falo coisas fora do diapasão" - defendeu-se, folcloricamente, o dirigente). Numa sala com ar condicionado congelante e odor de cachimbo apagado, segundo o repórter, Juvenal, o "intelectual", contou uma historinha interessante (se é verdade não se sabe) sobre o colega Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do Palmeiras:

- Em 2009, me perguntaram por que não ganhamos o campeonato. "Porque fomos incompetentes!". No dia seguinte o Belluzzo me telefonou: "Juvenal, você falou que o time é incompetente?". "Falei". Ele deu parabéns.

terça-feira, março 09, 2010

Do lanterna ao líder: sofrimento para vencer o último obriga Palmeiras a jogar de verdade

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Quando o garçom alviverde avisou que Lenny tinha feito 1 a 0 sobre o lanterna Sertãozinho na Arena Barueri, na noite de segunda-feira, 8, não hesitei:

– Ufa!

Era só o lanterna, é verdade. Mas duas derrotas seguidas não ajudam. De repente, parecia que perder para o último ia se tornar cina, depois da derrota para o Rio Claro. O Sertãozinho empatou e, de pênalti inexistente, virou para 2 a 1.

Cleiton Xavier por duas vezes desvirou e garantiu a vitória para a representação de Palestra Itália. Com gol aos 49 do segundo tempo. Tem técnico que ensinou que não é todo dia que o Xavier acerta. Mas quando o faz, salva.



O estádio Palestra Itália não pôde receber a partida no sábado porque o sofrível gramado estava alagado, mais ou menos como a rua Turiassu fica quando chove mais ou menos meia hora (é batata, não demora). A Federação Paulista de Futebol (FPF) concordou que o polo aquático não se joga na grama e transferiu a partida para segunda. Como o estádio do Palmeiras se prepara para receber a show do Guns N' Roses (hein?) desde domingo, o certame teve de ir à Arena Barueri, ex-sede do Grêmio Prudentino.

Mas parece que o técnico Antônio Carlos Zago gostou. É que a torcida anda impacientada e os jogadores, nervosos de atuar em casa sem conseguir resolver logo a fatura. Tanto assim, que o elenco seguiu via Castelo Branco, pagando todos os R$ 80 de pedágios pelo caminho, para Itu. Treinar para o clássico de domingo.

Depois de encarar e vencer sofridamente o lanterna, enfrentar o líder do campeonato, invicto há 11 jogos, é uma tarefa pesadíssima. Mas depois da partida entre Santos e Portuguesa, em que as duas equipes atuaram como time grande e protagonizaram um jogo e tanto, fiquei pensando.

O torcedor mais pessimista está pensando que, se para passar pelo Sertãozinho foi tão difícil, enfrentar o melhor ataque da competição exigiria uma retranca à lá Oswaldo de Oliveira – ou Carlos Alberto Parreira. E para perder de pouco.

Eu acho o contrário.

O Palmeiras tem uma chance de mostrar para cada palestrino que é e sempre será um time grande. Que merece respeito, antes de tudo, de sua própria torcida. E só jogando bola, enfrentando o líder como time grande e produzindo, junto do Peixe, um verdadeiro clássico – mesmo se for para perder – é que o time conssegue isso.

Mulher que bebe engorda menos

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Lu Wang, epidemiologista do Hospital das Mulheres em Boston, Estados Unidos, comprovou em uma pesquisa que as mulheres que bebem de um a dois drinques por dia são 30% menos propensas a ganhar peso. O universo de estudo foi considerável: 19.200 mulheres a partir de 39 anos, que responderam sobre seus hábitos de bebida e o ganho de peso nos últimos 13 anos. Em média, apesar de todas terem engordado à medida que envelheciam, as mulheres que ganharam mais peso foram as que nada bebiam. E o total de quilos adquiridos diminuía de acordo com o consumo alcoólico de cada uma. "Aquelas que consomem uma quantidade moderada de álcool costumam ter uma ingestão calórica menor de outras fontes não-alcoólicas, particularmente de carboidratos", diz Wang. "Por outro lado, a ingestão de álcool tende a acelerar o metabolismo das mulheres, significando um maior gasto calórico", acrescenta.

Na pesquisa, cerca de 38% das mulheres (7,3 mil) afirmaram que não bebiam álcool, enquanto quase 6% bebiam moderadamente - ou seja, duas taças de 150 ml de vinho por dia. Outras 3% bebiam mais do que isso, cerca de 30 gramas de álcool por dia. Os pesquisadores afirmam que os resultados estavam associados a quatro tipos de bebidas: vinho tinto, vinho branco, cerveja e licor. O estudo afirma ainda que a melhor relação entre peso e consumo de álcool ocorreu com as mulheres que bebiam vinho tinto. Não vou deixar passar o grito de guerra: - Bora beber, mulherada!

O que é uno em essência a política não separa

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Outro dia, comentando num post sobre os DEMOcratas, sugeri que o melhor caminho para eles seria se unir de vez ao P-Sol. Pois agora leio duas notinhas que comprovam minha intuição: o DEM pretende lançar Kiko (à esquerda), da bandinha mela-cueca KLB, a deputado federal por São Paulo. E o P-Sol tem planos eleitorais para seu novo filiado, Jean Wyllys (à direita), professor baiano que venceu uma das edições do vomitável programa Big Brother Brasil. Como se vê, os direcionamentos políticos dos dois partidos são gêmeos siameses. E ainda poderemos ver um possível D-Mol (Democratas Libertários). Não é um nome apropriado?

Casamento e pindaíba fazem idosos beberem mais

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O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas de São Paulo fez uma pesquisa com 1.563 pessoas de 60 anos ou mais e concluiu que, na capital paulista, 9,1% deles ingerem bebidas alcoólicas em excesso. Até aí, o índice nem é tão alarmante, mesmo porque muitos idosos ficam na mão de familiares inescrupulosos que os impedem de beber. Mas o índice dobra na análise do poder aquisitivo: 18,3% dos idosos da classe E, a mais miserável, são alcoólatras. A proporção vai baixando à medida que a grana vai subindo.

Na classe D são 13,6% os velhinhos chegados na cachaça braba; na classe C, 8,8% e na classe B, 3,1%. Mas volta a subir entre os ricos, que, naturalmente, tem mais dinheiro para comprar um goró: 7% dos idosos da classe A enxugam além da conta. Outro dado curioso é que, em relação ao estado civil, o levantamento revelou que o maior índice de alcoolismo está entre os casados, com 13% de velhinhos alcoólatras. Já entre os solteiros, o índice cai pela metade: 6,6%. Ou seja, falta de grana e casamento são os principais tormentos que levam a velharada a cair de cabeça na manguaça. E estamos falando essencialmente do público masculino, pois o índice de alcoolismo entre os homens idosos atinge 20%, enquanto, entre as mulheres, não passa de 3,1%. Como não sou mais casado, só a pindaíba me motivará no futuro...

Ê Globo, até quando?

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Já estou cansado de discutir a parcialidade da grande imprensa, mas esta foi um pouco demais.


O Brasil entrou com processo na Organização Mundial do Comércio, OMC, ainda no governo FHC, em 2002, por conta de subsídios dos Estados Unidos que dava vantagens indevidas aos produtores estadunidenses de algodão, o que prejudicava os exportadores brasileiros.

Numa rara decisão, a OMC decidiu que o Brasil tinha razão e autorizou que os Estados Unidos fossem retaliados em mais de R$ 800 milhões de dólares.

Ou seja, o Brasil poderá adotar medidas para para onerar produtos norte-americanos com taxas que podem chegar a 100% no imposto de importação, praticamente inviabilizando a compra desses produtos. O que permite maior espaço para produtores nacionais ou para outros países.

E é uma cacetada na política de subsídios a produtos agrícolas, feita pelos EUA e pela Europa. Tanto que os EUA mandaram correndo alguém para negociar.

Explicado isso, vem o motivo do post.

Sabe como o Jornal Nacional deu a "matéria", insinuando que o governo brasileiro vai "aumentar impostos", e que no caso do trigo americano isso pode aumentar os preços dos produtos derivados aqui.

Para provar a "tese", pega uma declaração de uma associação de importadores dizendo que se a produção brasileira não der conta de suprir o mercado, se faltar trigo argentino, aí os preços podem subir.

Se era para manipular, não dava para achar nada melhor. Parece que eles realmente acreditam que todo mundo é Homer Simpson.

Para não dizerem que estou inventando, segue a matéria.

Não tem responsabilidade? Como assim?

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No final de semana ocorreu um dos fatos mais chocantes do esporte brasileiro e a repercussão tem sido pífia. O jogador de futsal Robson Rocha Costa disputava uma partida no ginásio municipal de Guarapuava (PR), defendendo o Atlético Desportivo local contra o Palmeiras/Jundiaí, no sábado, quando deu um carrinho na linha de fundo e uma lasca de madeira do piso entrou em sua coxa, se partiu em três pedaços e atingiu o intestino e órgãos internos. As imagens são de arrepiar. Robson foi atendido com vida (foto) e levado consciente para o hospital, mas morreu de hemorragia interna no dia seguinte, aos 22 anos. Absurdo? Sim, totalmente absurdo.

Mas o que me deixou ainda mais perplexo, hoje, foi ler as seguintes - e inacreditáveis - informações no jornal Lance! (o grifo é nosso):

Segundo informações da Secretaria de Esportes e Recreação de Guarapuava, um laudo emitido pela Defesa Civil em janeiro permitia a realização de jogos no ginásio Joaquim Prestes. A polícia paranaense acredita que são remotas as chances de alguém ser responsabilizado pela morte do jogador.
- Fazendo uma análise da conservação do piso para a morte do rapaz, a gente não encontra um nexo - disse Maria Nysa Moreira, delegada responsável pelo caso.
Em nota oficial, a Prefeitura de Guarapuava se isentou de culpa no acidente.


Se isentou? Simples assim? Ninguém será responsabilizado? Não se encontra "nexo"? Como assim?!? Como assim??? Como assim?!!??!!? Hã?!???!!???

segunda-feira, março 08, 2010

Se chegar redonda, ele decide

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Por Moriti Neto

Duas vezes Washington. No estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, num campo que conhece bastante, pois foi artilheiro também por lá, como em tantos outros lugares, o centroavante confirmou, ontem, a vitória do São Paulo sobre a Ponte Preta.

No primeiro gol, aos 14 minutos de jogo, de frente para o goleiro Eduardo Martini, ele chutou até fraco, mas a bola passou por entre as pernas do adversário. Coisa de quem pode não primar pela técnica, porém sabe, e muito, se posicionar na área.

Aos 41, vem o segundo tento. Hernanes cruza da direita, Washington finaliza e Martini rebate. Mas centroavante que é centroavante não desiste e o artilheiro, quase sentado, se estira para tocar e concluir para as redes da Macaca. Isso, ao estilo que lhe é peculiar, com raça.

Etapa inicial e partida resolvida. Alias, graças também a Rogério Ceni, que pegou pênalti mal marcado para a Ponte Preta.

Com Jean e Richarlyson de volantes, Hernanes mais na organização, Cicinho de lateral (e não inventado no meio) o São Paulo jogou bem melhor do que contra o Oeste, com qualidade na saída de bola e nos cruzamentos. Assim, o técnico Ricardo Gomes, de volta ao banco de reservas após o acidente vascular cerebral que o afastou do comando da equipe desde o confronto com o Palmeiras, viu o time do Morumbi subir na tabela, indo à terceira posição na classificação.



O curioso é que a Ponte Preta sofreu com as conclusões, principalmente pelos erros do ex-corintiano Finazzi, que tem pouca técnica e está  longe da média de gols de Washington, que para a alegria dos são-paulinos, matou a peleja e é o artilheiro do Clube da Fé na temporada. Com cinco tentos no Paulista e dois na Libertadores, o centroavante lidera a tábua de goleadores do São Paulo em ambos. Não dá para reclamar. Quando a bola chega redonda, o cara faz o que sabe. E decide.

Eu não gostaria de um Dia Internacional do Homem

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Corro o risco, aqui, de ser linchado virtualmente (ou quiçá até fisicamente) por discordar em público do Dia Internacional da Mulher. Exatamente por valorizar, respeitar e admirar as mulheres como alicerce fundamental e força motriz da humanidade, considero a data ofensiva. Tá, eu sei que tem um enorme valor simbólico, que serve para pontuar a luta feminina, chamar a atenção para o machismo, a violência contra as mulheres, o preconceito, bla, bla, bla. Eu sei. Mas sou contra por um ponto de vista particular e não arredo o pé: como resumiu muito bem um colega meu há 15 anos, Eli Fernandes, num artigo intitulado "A mulher vai acabar virando Papai Noel", essa efeméride, por mais justa e bem intencionada que tenha sido sua criação, virou puro comércio, banalidade e marco explícito de que os outros 364 dias são, de fato, dos homens. Banaliza a luta feminina no que tem de mais sério e funciona como uma espécie de "concessão cordial". E elas ainda tem que sorrir e agradecer as rosas e lembrancinhas que, burocraticamente, os homens compram e distribuem nessa data, como no Natal ou no Dia dos Namorados. No dia seguinte, os machos voltam normalmente a excluí-las e menosprezá-las. Mentira? Algum "sensível" aí gostaria de se ver obrigado a distribuir sorrisos e obrigados num Dia Internacional do Homem, criado em um mundo hipoteticamente dominado pelas mulheres? De ser desprezado e ter de agradecer pela migalha do "seu dia"? É fácil analisar do lado opressor.

Bom, se a maioria pensa o contrário e está muito feliz e satisfeita hoje, com um sorriso nos lábios, como diria o finado Gonzaguinha, também sei que muitas partilham no todo ou em parte com minha visão e que sabem, para além disso, que a valorização da mulher é no dia a dia, e não em um só dia. Que a mudança de atitude é mais importante que meia dúzia de rosas e discursos demagógicos. Por que tantos beijos e parabéns se, no Brasil, as mulheres tem mais escolaridade mas ganham 72,3% a menos que os homens? Se as que tem nível superior ganham ainda menos? Se são excluídas de profissões ditas "masculinas"? Ou bem pior que isso: se no Brasil a violência contra a mulher aumentou quase 50%, entre 2008 e 2009? Tem rosas e parabéns que amenizem essa situação? Sei lá, tudo me parece ainda mais hipócrita e agressivo do que nas datas manjadas (e impostas) do calendário comercial - Dia das Mães, dos Pais, das Bruxas etc. Às mulheres, meu modo pessoal de expressar toda a gratidão e reconhecimento é justamente dizer que vocês são trilhões de vezes maiores e mais importantes do que essa data burocrática e banalizada. Todos os dias são seus. Enquanto, como disse Gilberto Gil, os homens seguem vivendo a ilusão de que ser homem basta e que o mundo masculino tudo lhes dá. Reverências sinceras a todas vocês.

Estadão 'militante' põe faca no pescoço de Serra

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Como o (des)governador de São Paulo, José Erra, digo, Serra, não sai mesmo da moita, o jornal Estadão, impaciente para dar início à sua incansável militância tucana, chamou o cabra na chincha em pleno editorial da edição de domingo, intitulado, com indignação indisfarcável, de "O candidato clandestino". Além de citar (e com isso reforçar) "a arrogância de lideranças políticas (José Serra e Fernando Henrique) que pressionam Aécio para aceitar a vice", o texto reconhece, com temor, que "o contraste entre a desenvoltura de longa data da operação Dilma e o tardio despertar da oposição para o imperativo de tirar Serra do lusco-fusco em que escolheu permanecer serviram até agora para debilitar eleitoralmente o governador".

E o Estadão ainda toca na delicada hipótese de Serra desistir de disputar a Presidência da República para tentar a reeleição em São Paulo, advertindo que "essa hipótese é desonrosa para o governador". O grand finale é faca no pescoço total: "A esta altura, ou ele (Serra) disputa o Planalto ou sai da vida pública. Como a sua escolha está feita, já passou da hora de ser coerente com ela. A oposição precisa de um candidato que vá para a batalha pela porta da frente" (parece pai chamando a atenção de filho!). A pergunta de Carlos Drummond de Andrade nunca foi tão apropriada: - E agora, José?

'Com todo o respeito'?!??

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Tentando descobrir o que tinha acontecido na rodada do Paulistão no final de semana, sintonizei o programa Mesa Redonda, da TV Gazeta, bem no momento em que o apresentador Flávio Prado (foto) dizia o seguinte:

- Imperador da favela! Imperador da favela! E o Adriano ainda quer disputar a Copa. O Dunga não vai tomar uma providência? E a disciplina? O Ronaldinho (Gaúcho) também é baladeiro, mas é diferente, a balada dele é em Milão. A do Adriano é na favela da Chatuba! Com todo o respeito...

domingo, março 07, 2010

Portuguesa 1 X 1 Santos - o melhor jogo do Paulista

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Quem assistiu ao empate entre Santos e Portuguesa viu o melhor e mais emocionante jogo do campeonato paulista. Poucas vezes a expressão “tudo pode acontecer” deixou de ser um mero chavão de locutor e se materializou de forma tão clara em 90 minutos nos quais foram criadas inúmeras chances de gol para cada lado.

A Lusa entrou em campo com a proposta de jogar no contra-ataque e, para isso, jogou com três zagueiros e somente um atacante no ofício. Ao contrário de outros rivais do Santos que tentaram sem sucesso marcar o time da Vila Belmiro no seu próprio campo, os rubro-verdes ficaram atrás e resolveram povoar o meio de campo para que pudessem roubar a bola e sair rapidamente para o ataque. No primeiro tempo, deu certo, e aos 14 a Portuguesa chegava ao 1 a 0.

Com o Santos voltando de forma lenta para a marcação e Roberto Brum e Wesley batendo cabeça no lado direito da intermediária peixeira, Dorival Junior mexeu aos 35 da primeira etapa, tirando Brum e fixando Wesley na lateral, colocando Marquinhos em campo. O meia passou a revezar a armação – e também a marcação na meia – com Ganso.

Na segunda etapa, o Santos voltou elétrico e empurrando a Lusa pra trás. Mesmo assim, o time da casa não deixava de levar perigo nos contra-ataques e criou ao menos três grandes chances durante o tempo complementar. F ábio, o goleiro rubro-verde, vivia uma grande tarde e mesmo com um volume impressionante de jogadas ofensivas santistas, parecia ao torcedor ser um daqueles dias em que a bola não entra mesmo.

Com Zé Eduardo no lugar de André e Madson fazendo a ala esquerda no lugar de Pará, o Alvinegro tinha apenas um volante, Arouca, e meias ofensivos nas laterais. A ousadia do técnico santista foi recompensada e Zé Eduardo marcou aos 44, em um lance com sete jogadores de linha da Portuguesa dentro da grande área.



Se a sequência de vitórias foi quebrada, a invencibilidade perdura. A se destacar na partida, um coadjuvante que brilhou pela entrega e também pela capacidade de marcar todas as tentativas de contra-ataque luso. Arouca se desdobrou em campo, marcou em velocidade, conduziu a bola à frente e teve uma atuação daquelas que incentiva o resto do time a correr também. Discreto, foi fundamental ontem e já se torna peça fundamental para Dorival Junior.

Por outro lado, André, com atuação apenas razoável, se perdeu no primeiro tempo ao sofisticar de forma desnecessária alguns lances, como já havia feito na peleja contra o Paulista. É bom jogador, tem muito a evoluir, mas não pode achar que joga mais do que sabe, até porque sua técnica é nitidamente inferior à de seus companheiros de ataque (o que, aliás, não é nenhum demérito). A entrada e o gol de outro coadjuvante que sempre entra bem, Zé Eduardo - lance de raça e não de técnica -, devem fazer o garoto acordar.

*****
Confira a visão rubro-verde da partida aqui.

sábado, março 06, 2010

Adolf Obama ou Barack Hitler - para quem reclama da mídia brasileira

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Os conservadores nos Estados Unidos estão em guerra declarada contra o presidente Barack Obama. Desde que assumiu, em 2009, o democrata (não confundir com os democratas daqui) promove investidas para aprovar um programa público de saúde. Não está claro se o projeto cria um Sistema Único de Saúde para os gringos ou se faz um arremedo disso, mas o objetivo é garantir acesso a tratamento por parte das pessoas que não tem o que no Brasil seria chamado de convênio médico.

Os planos de saúde geram distorções no atendimento e um superpoder às seguradoras de negar tratamento por questões descritas nas letras miúdas dos contratos.

A forma mais razoável de atacar uma proposta assim seria com argumentos, críticas, apontando contradições na proposta. Mas o jeito mais fácil é outro: comparar Obama a Adolf Hitler e o plano de saúde pública à eugenia e ao holocausto. Claro!

A revista Extra! e o Media Matters fazem levantamentos exaustivos do que a mídia – especialmente a neoconservadora – produz. E são inúmeras as recorrências, desde 2008 até agora, e com viés de alta.

Para os conservadores da terra do Tio Sam, colocar o Estado na função significa tirar poder das empresas para entregá-lo ao Leviatã. E um Estado maior é tudo o que essa turma não quer, seja por interesses econômicos pontuais, seja por ideologia, por acreditar que é mesmo um risco fazer o setor público crescer, nem que seja um pouquinho.

Em 2009, radicais de direita – Deus, Jeová, Alá e Buda nos livrem disto! – saíram em marcha com cartazes que fundiam as figuras de Obama e Hitler, com os dizeres: "Barack Hussein Obama, a nova face de Hitler". "Mas esses radicais não inovaram nas comaprações. Eles receberam a fúria e as analogias ao Fuehrer principalmente dos comentaristas de direita das rádios e televisões", escreve Noah Lederman.

(Que conste, com George W. Bush o mesmo tipo de montagem foi feito, e muitas, muitas vezes.)

Com destaque para as TVs e rádios associadas à Fox News, são listados comentários e referências ao ditador nazista. Uma das mais surreais comparações foi assinada por Glenn Beck, um aspirante a político ultrarreacionário dos mais raivosos que tem certeza da existência de elos entre a o mandatário na Casa Branca e a Al Qaeda.

Quando Obama justificou a escolha de Sonia Sotomayor para a Suprema Corte – a primeira mulher de origem latino-americana – por levar inteligência e empatia ao tribunal, Beck não se aguentou. Ele foi pesquisar nos livros de história da Segunda Guerra Mundial para concluir que Hitler usou a "empatia" para decidir pela eutanázia de crianças com deficiência, "o que levou ao genocídio por toda parte". Simples assim. Mais adiante emendou: "Empatia leva você muitas vezes a decisões bastante ruins".

Mas onde isso toca o plano de saúde? Beck não preservou para isso sequer sua filha, que teve paralisia cerebral ao nascer. Segundo o comentarista, o tratamento que a filha receberia caso fosse aprovado o programa público de saúde de Obama seria igual ao dado pelos nazistas às pessoas com deficiência.

Cal Thomas, que escreve em diferentes jornais, também mostrou que tem talento para ficção. Sugeriu que as medidas apresentadas ao Congresso levariam o país pelo mesmo caminho que levou Hitler à Lei da esterilização – sem citar as normas semelhantes adotadas do outro lado de cá do Atlântico. Em outro artigo, escreveu que poderia ser dada carta branca a cientistas para promover estudos sem preocupações éticas como tinha Josef Mengele, o Anjo da Morte nazista.

De novo Glenn Beck, em outra ocasião, explicou que não queria comparar os dois líderes, mas pedia que o público lesse o livro Minha Luta, ou Mein Kampf no original, autobiografia de Hitler. Esta merece citação na íntegra:

– Se você lê isso (Mein Kampf) agora, vê que Hitler lhe disse o que ele ia fazer. Ele contou aos alemães. Vendeu mais do que a Bíblia. Os alemães leram Mein Kampf, mas o que fizeram? Não deram ouvidos. "Ah, ele não está falando sério." "Ah, ele só está dizendo para ganhar o público X, Y, Z." Todas as mesmas mentiras estamos dizendo a nós mesmos. "Não, isso é loucura. Ninguém realmente faria isso (as medidas previstas no programa de saúde dos democratas)". Eles enterraram suas cabeças na areia e, então, tornou-se tarde demais. Por favor, America, levem a sério o que este homem (Obama) diz.

Incrível como ele parece ter certeza do que diz. E a gente ainda reclama da mídia brasileira. Tem muito colunista que precisaria comer muito arroz com feijão (ou seria x-burguer com fritas?) para produzir ilações assim.

sexta-feira, março 05, 2010

Som na caixa, manguaça! - Volume 50

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FALANDO DA VIDA
(Rodger Rogério/ Dedé)

Rodger Rogério

No meio do dia não venha tentar quebrar meu encanto
Não venha chorar, por enquanto
Meus olhos de olhar, de olhar querem ver o que há
Não venha me encher de mistérios
Não vou prometer ficar sério

Não venha, não venha tentar quebrar meu encanto
Não venha chorar, por enquanto
Não venha me encher de mistérios
Não, não vou prometer ficar sério
Não venha estragar meu prazer
Não, não vou prometer
Não venha estragar
Enquanto durar

No meio da noite não posso deixar
Não posso deixar de sair
Se você quiser, pode vir
Não quero mudar minha sorte
No meio da noite não posso deixar
Não posso deixar de sair
Se você quiser, pode vir
Não quero mudar minha sorte

Se a morte, se a morte vier me encontrar
Ela sabe que estou entre amigos
Se a morte, se a morte vier me encontrar
Ela sabe que estou entre amigos
Falando da vida, falando da vida
Falando da vida e bebendo num bar
Falando da vida, falando da vida
Falando da vida e bebendo num bar

(Do LP "Meu corpo, minha bagagem, todo gasto na viagem", Continental, 1973)

Decisões importantes, fóruns adequados

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O PT paulista ainda aguarda novidades sobre a chapa que disputará o governo do Estado. Mas não perde por esperar:

O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) participa nesta segunda-feira, dia 8, a partir das 17h30, do Programa do Ratinho, no SBT, comandado pelo apresentador Carlos Massa.

Isso é que é debate político em alto nível! Quem procura, acha!

10, e contando

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O Santos venceu ontem o Paulista por 3x2, no Jaime Cintra, lá em Jundiaí. Não assisti ao jogo. Fiquei na base do rádio, então os comentários que se seguirão sobre a partida têm como principal referência a transmissão da Rádio Bandeirantes, capitaneada por José Maia e Antonio Petrin.

Segundo eles, o que se viu no interior foi uma boa partida. Apesar da péssima campanha que faz, o Paulista foi pra cima do Peixe e buscou sufocar o adversário - o que conseguiu de maneira ainda mais precoce do que o esperado, com um gol logo aos dois minutos. Ainda no primeiro tempo o Santos empatou com Wesley; virou, já na segunda etapa, com Paulo Henrique Ganso, sofreu o empate por intermédio de Julinho e viu Robinho decretar a vitória aos 23 do segundo tempo, com um belo gol.



Já que não posso falar muita coisa sobre o jogo propriamente dito, discorro sobre suas consequências. A primeira é o fato desta ter sido a décima vitória consecutiva do Santos. É um recorde histórico. Mais que isso, só conseguiu o time de Pelé, em 1968, quando ganhou por 12 vezes initerruptas.


É aquele tipo de marca que muita gente vai contestar: "pô, ganhando do Naviraiense e do Jundiaí, até eu". Questiono, então: se é "até eu", por que só o Santos detém a marca? Todos os grandes estão jogando campeonatos regionais e enfrentando times inexpressivos, e só o Santos conseguiu esse feito. E vale ressaltar que na lista dos derrotados pelo Peixe estão os rivais São Paulo e Corinthians. Ou seja: pode não ser nada "decisivo", mas também não é pouca coisa.

O que também não é pouca coisa é o fato do Santos estar praticamente assegurado nas semifinais do Paulistão. Hoje, o Peixe tem 11 pontos a mais que o São Caetano, o quinto colocado. Pode-se dizer que apenas uma hecatombe tira o clube da fase decisiva. O exemplo do Palmeiras, que voou na fase classificatória e depois sucumbiu diante do próprio Santos no ano passado, não deve ser esquecido; então, a partir do momento em que se iniciarem as semifinais, começa outro campeonato. Mas a melhor decorrência dessa classificação antecipada - e talvez até mesmo o primeiro lugar, que possivelmente se confirmará - é a possibilidade de testar outras formações e dar descanso a jogadores muito exigidos. Bom saber que o Santos terá liberdade para tal.

'Nunca fui muito de grupo'

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Chego ao escritório agora pela manhã e me deparo com a notícia da morte do músico, cantor e compositor Johnny Alf, aos 80 anos. Quando o entrevistei, há menos de dois anos, em Santo André (cidade na qual se recuperava em tratamento de câncer e onde veio a falecer), já notava-se que não teria muito tempo de vida. Mas o que mais me impressionou, na ocasião, foi o misto de tristeza, orgulho e resignação de seu olhar cansado e de suas respotas lacônicas. Ele sabia quem era, não precisava dizer.

Na época, Alf ensaiava com um maestro e um coral improvisado no auditório do Hospital Estadual Mário Covas, onde faria uma pequena apresentação com o também músico (e fã) Toquinho. Apareceu em uma cadeira de rodas, com um colete protetor (reproduzo acima imagem daquele dia feita pelo amigo fotógrafo Luciano Vicioni, do jornal ABCD Maior). Estava sereno, calmo, como quem achasse curioso que mesmo o espetáculo do próprio declínio despertasse a avidez da mídia e dos holofotes, coisas que haviam sido rotina em um passado muito longínquo. Na matéria que fiz depois para a Revista Fórum, contrapondo o sucesso e endeusamento de João Gilberto com o decadente ostracismo de seu amigo e ídolo Johnny, tentei passar um pouco daquela impressão que Alf me deixou. Quando perguntei se o fato de ter vindo trabalhar em São Paulo em 1955, pouco antes de a Bossa Nova explodir, poderia ter ofuscado sua importância histórica, respondeu:

“Não creio que houve um desencontro”, defende-se o artista, como se perdoasse, com uma dose de parcimônia, a curiosidade dos jovens que o cercam no auditório do hospital. “Eu achava o pessoal do Rio meio confuso e quando caí em São Paulo vi organização. Fiquei por aqui mesmo”, diz Alf, com simplicidade.

No livro "Chega de Saudade", de 1990, Ruy Castro diz que Ronaldo Bôscoli ainda tentou resgatar Johnny Alf para o movimento, como quando, no primeiro show oficial da turma, em maio de 1960, no Rio, o apresentou como alguém que fazia Bossa Nova "há dez anos". Mas a juventude presente ali na Faculdade de Arquitetura da Praia Vermelha queria mesmo era ouvir João Gilberto, daí explica-se que, segundo Castro, o desconhecido - e assustado - Alf tenha aparecido de porre (o que justifica o marcador "cachaça" neste post) e desafinado um pouco em sua tímida apresentação - o que não contribuiu em nada para sua aceitação. "Não me juntei com eles. O fato é que me chamavam, eu não ia lá. Nunca fui muito de grupo", justificou, quando o entrevistei.

Nas décadas seguintes, apesar do absoluto reconhecimento no cenário internacional e de ser unanimidade entre os colegas músicos, Alfredo José da Silva (esse era seu verdadeiro nome) seguiu uma trajetória discreta e excluída do consumo de massa. O que nunca vão dizer com todas as letras é que o fato de ser negro e homossexual contribuiu decisivamente para sua exclusão no mercado brasileiro. Um fato emblemático foi o escândalo provocado pelo disco "Nós", lançado pela EMI em 1974, em plena transição entre os truculentos governos dos generais Emílio Médici e Ernesto Geisel, em que Alf aparece na capa com uma roupa colorida e, ao fundo, caminhando em sua direção, um homem.

De qualquer forma, sinto agora uma espécie de "dever cumprido" por ter destacado sua importância, em uma revista de circulação nacional, antes das manjadas condolências que toda a mídia deverá prestar na hora de sua morte. E termino o post com o trecho de uma canção pouco conhecida de Vinicius de Moraes e Toquinho, de 1975, que fala de um solitário com o mesmo nome de batismo de Johnny Alf. E que descanse, finalmente, em paz.

Um homem chamado Alfredo

O meu vizinho do lado
Se matou de solidão
Abriu o gás, o coitado
O último gás do bujão
Porque ninguém o queria
Ninguém lhe dava atenção
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração
Levou com ele seu louro
E um gato de estimação

Há tanta gente sozinha
Que a gente mal adivinha
Gente sem vez para amar
Gente sem mão para dar
Gente que basta um olhar
Quase nada
Gente com os olhos no chão
Sempre pedindo perdão
Gente que a gente não vê
Porque é quase nada


quinta-feira, março 04, 2010

É de matar...

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O mais perigoso de ler jornais é acreditar neles. Até bem pouco tempo, a imprensona brasileira fazia ilações estapafúrdias entre Lula e o venezuelano Chávez para garantir aos incautos, com todas as letras, que nosso presidente também daria o golpe do terceiro mandato. Sim, nosso presidente já ultrapassou os 80% de popularidade, mas essa ideia nunca o atraiu, como ele fez questão de declarar. Aliás, muito antes de se falar em terceiro mandato, quem deu o golpe da reeleição foi outro presidente, aquele que fala francês (e diz muita besteira em português, mesmo). Bom, pra encurtar, creio que houve alguém que leu sobre o terceiro mandato de Lula, acreditou e imaginou uma ficção sobre o assunto, para ser lançada, convenientemente, no ano das eleições - e que fica agora meio patética, com a confirmação da candidatura da ministra Dilma Rousseff. Não bastasse o furo n'água, pois Lula não é candidato a nada, o livro, que será lançado dia 17, em Florianópolis, não prima pelo bom gosto do título nem pela pérfida sugestão do enredo:

"Quem Matou Lula da Silva?", de Ubaldo C. Balthazar (Cia dos Livros). Sinopse: Mistério. Suspense. Intrigas. Um candidato à Presidente da República é assassinado às vésperas das eleições. Mesmo assim, ele ganha as eleições... Ou não será ele? Ubaldo César Balthazar envolve o leitor a cada página desse romance policial moderno e brasileiríssimo, tecido com inteligência e refinado humor! "Até hoje, muita gente (de esquerda, principalmente) não perdoa o atual Presidente brasileiro pela transformação sofrida. Daí que uma explicação possível tenha sido uma troca por um sósia fisicamente perfeito, mas de ideologia nem tão igual. Por isso, meus agradecimentos ao Presidente Lula, pela ideia..." (o autor)

"Quem matou Lula?". Como diria DeMassad, "não dá ideia, não dá ideia..."

Ps.: E difamam a manguaça, na capa, sugerindo que Lula seria morto no bar.

Foi de broxar

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Por Moriti Neto

Broxante. Não tenho outra palavra. Bar, cerveja gelada, boa companhia e um jogo do time de coração. Espera por gritar um golzinho que fosse. E nada. Isso, contra um adversário fraco e que jogou com um a menos em boa parte do tempo. Resultado: 0 x 0 e uma “exibição” de matar a criatividade de vergonha. Nada mais desestimulante para um amante da bela modalidade que se chama futebol.

Oeste e São Paulo, disputada ontem, em Araraquara, foi das piores partidas que vi em muito. Chata de assistir e de deficiência técnica gritante. O Tricolor foi lento, sem inventividade e os jogadores mais se assemelhavam a lesmas, se arrastando pelo gramado.



A defesa, simplesmente, não teve trabalho, pois o ataque adversário inexistia. No meio de campo, fora Jean, que jogou bem e merece mesmo ser o primeiro volante titular, não se salvou ninguém. Cléber Santana foi um horror nos passes e, lento, pouco colaborava na marcação. O trio de atacantes formado por Washington, Fernandinho e Dagoberto, ao menos correu, e só correu. Faltou tudo: velocidade, ousadia, movimentação, recuperação de bola rápida no meio, ultrapassagens dos laterais, chutes de fora da área.

Agora, quanto aos defeitos, sobraram. E dos principais apresentados pelo time e que vem se tornando recorrente na temporada, a incompetência de manter a bola no campo de ataque, perto da área adversária, sobressaiu-se. Os jogadores que tentaram quebrar o estilo cintura dura e moroso da equipe foram Dagoberto e Fernandinho, que saíram extenuados ao fim da partida. Washington perdeu boas chances, mas, também, a bola chegou quadrada na maioria das vezes. Aí, o centro-avante, que é “grosso”, porém sabe fazer gols, tem que ajeitar driblar, enfim, raras vezes recebe a redonda em condições ideais, seja em passes por baixo ou em bolas aéreas.

O jogo foi broxante. Ainda bem que a cerveja gelada e a ótima companhia prevaleceram e permaneceram apesar da ruindade demonstrada em campo.

Palocci e a Confecom de direita

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Chega a ser difícil comentar qualquer coisa a respeito do Fórum Democracia (sic) e Liberdade de Expressão (de empresa?). O excelente texto de Gilberto Maringoni sobre os debates é bastante claro a respeito do que já se chama de "Confecom da Direita", data venia o fato de que, na Conferência realizada em dezembro, houve um processo de participação da sociedade e inclusive de empresários, enquanto no convescote do Instituto Millenium só havia espaço para poucos "escolhidos".

Mas o que surpreendeu de fato foi a presença do ex-ministro da Fazenda do governo Lula, Antonio Palocci, referendando a grita contra qualquer tentativa de democratizar a comunicação do país. O petista (?) escutou toda sorte de impropérios contra seu partido e o governo do qual fez parte e ainda fez questão de engrossar o coro dos descontentes com uma declaração, no mínimo, surpreendente para alguém "de esquerda":

"Há concentração na comunicação, mas há em várias atividades econômicas no Brasil. Considero normal e uma característica do amadurecimento das economias a concentração e também a formalização das atividades econômicas. Acho que são duas características que têm marcado a economia e não acho nenhuma delas negativa".

O que Palocci esqueceu é que o "amadurecimento" no caso das comunicações veio bem antes do que em outras atividades econômicas, tendo sido moldado em regimes autoritários da história tupiniquim. E também ignorou o fato de estar em construção hoje o conceito do direito à comunicação como um direito humano, não podendo este ser submetido às leis do mercado ou à vontade de meia dúzia de famílias monopolistas.

Ao fim, fica uma reflexão. Se Palocci tivesse saído do PT no prazo regulamentar, talvez José Serra não tivesse hoje tantos problemas para contar com um vice de peso...

Nova derrota em casa para um time do ABC

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O Palmeiras perdeu mais uma, a quarta do campeonato Paulista. Mais uma seguida, novamente para um time do ABC, por 3 a 1. O algoz foi o Santo André, que jogou melhor, mesmo com uma proposta de contra-ataques. Uma campanha medíocre, que tem apenas quatro vitórias e outros quatro empates.

A defesa alviverde deu sopa e o Ramalhão não desperdiçou a possibilidade de se consolidar na segunda posição, seis pontos à frente do São Paulo, o terceiro. A vitória do Santo André teve até gol de letra de Rodriguinho, aos 17 do segundo tempo.

Marcos, o Goleiro, falhou no segundo gol e saiu do jogo prometendo pendurar as chuteiras (ou as luvas) no final da temporada. Como se fosse o problema estivesse com camisa 12 e debaixo das traves.

O mais interessante é que a frase dele foi: "Só sei que a torcida do Palmeiras pode ficar tranquila, porque o sofrimento comigo em campo só vai até o fim do ano". O "sofrimento comigo em campo" deve ser do próprio Marcos, ao ver o time apático.

Com Diego Souza e Cleiton Xavier desmotivados e longe das melhores condições, o time não rendeu mais quando Marquinhos substituiu o camisa 10 nem quando o meia Ivo entrou no lugar do lateral-direito Eduardo. Cleiton Xavier saiu com contusão no tornozelo e Diego Souza, expulso.



Parece que o clima anda péssimo no Palestra Itália. Marcos se afastou da rodinha na hora do intervalo, Diego se descontrolou, o time não rendeu. Dureza. Só está claro que o problema não era o técnico.

Serra, saia da moita!

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O Estadão de hoje traz novo balão de ensaio sobre a sucessão paulista, na linha do "se não há novidade, a gente teoriza". Que a militância petista de São Paulo prefere como candidato ao governo do Estado o senador Aloizio Mercadante, em vez do deputado federal Ciro Gomes, não resta a menor dúvida. Que Marta Suplicy e seu grupo também torcem para que isso aconteça, para que a ex-prefeita aproveite a brecha e se candidate ao Senado, é outra verdade (os deputados federais do PT por São Paulo também engrossam o caldo, pois assim Marta não se candidataria à Câmara Federal e deixaria de dividir os votos deles). Da mesma forma, o presidente Lula e Dilma Rousseff já escancararam que Mercadante é a melhor opção caso Ciro bata o martelo de vez sobre não disputar o governo de São Paulo - o que ainda não fez.

Mas...e daí? A materinha do Estadão, que misteriosamente saiu de forma simultânea na edição de hoje do jornal gratuito Metrô News, não passa de uma costura de todas essas constatações embrulhada para o leitor como fato consumado. Mercadante (que se recupera de uma cirurgia feita na terça-feira) viajou com Lula para o Uruguai e o Chile e, contra as expectativas, nada foi acertado sobre a chapa do PT em São Paulo. Ficou naquela: o senador mantém a disposição de disputar sua reeleição (é líder nas pesquisas), Lula segue com um fio de esperança na capitulação de Ciro e todos continuam aguardando o (des)governador José Serra oficializar (ou não) sua candidatura à Presidência da República.

Tudo como d'antes. Serra encolhido quietinho na moita, matutando sobre o surpreendente empate técnico com Dilma nas pesquisas. E, na fila, Ciro aguarda sua decisão para saber o que fazer, Lula aguarda Ciro e Mercadante aguarda Lula. Fora disso, tudo é pastel de vento na mídia paulistana. Mas que o grupo da Marta trabalha bem nos bastidores, ah, isso trabalha...

quarta-feira, março 03, 2010

Campanha encruada

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A partir de um jingle proposto em um comentário do leitor Jefferson, no blogue "Esquerdopata", resolvi complementar a letra do desespero tucano:

À CAÇA

Mas que campanha tão engraçada
Não tem mais vice, não tem mais nada

Se o Aécio não aceitar
É porque sabe que não vai dar

E o Arruda, mas que saudades
Perdeu a vaga atrás das grades

O José Serra quer desistir
Pois nas pesquisas só faz cair

Essa é uma briga de muito afinco
Na rua dos bobos, 45


(Com todos os perdões a Vinicius e Toquinho...)

Tipos de cerveja 46 - As Abbey Dubbel

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A Dubbel é uma cerveja escura, muito rica em malte e com teor alcoólico próximo a 9%. Menos frutada que a Belgian Strong Dark Ale, possui, em contrapartida, sabor complexo e uma boa presença de gás. Tal como o nome indica, são cervejas feitas seguindo a tradição de abadias e mosteiros, apesar de muitas fábricas tentarem imitar essas características com algum sucesso. "As Abbey Dubbel acompanham bem queijos, chocolates, bifes e carnes de caça", sugere Bruno Aquino (foto à esquerda), do site português e parceiro Cervejas do Mundo. Boas marcas indicadas: Corsendonk Pater Abbey Brown Ale (foto à direita), St. Feuillien Brune e Westmalle Dubbel.

terça-feira, março 02, 2010

A oficial cara do novo Barueri

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Agora não há mais volta: com direito a aprovação do poder público, modificação em todos os setores do site e apresentação do novo distintivo, o Grêmio Recreativo Barueri já não existe mais. Quem disputará a primeira divisão do Campeonato Brasileiro e também a Copa Sul-Americana em 2010 é o Grêmio Prudente - ou, mais precisamente, o Grêmio Prudente Futebol Ltda.

O novo time lutará para ser conhecido como Grêmio, somente Grêmio. O que gerará uma estranha necessidade de se acrescentar um "-RS" após o nome do tradicional tricolor gaúcho. Se é, claro, que o novo nome pegará na prática entre os torcedores. Mais provável que o clube ainda seja chamado de "Barueri" por aí, e de Grêmio Prudente na mídia geral.

A mudança de nome e cidade não gerou alteração nas cores do ex-Barueri. O time segue "quadricolor", ostentando vermelho, azul, amarelo e branco - as cores da cidade de Barueri - em seu escudo. Se fosse adotar as cores de sua nova cidade, o Grêmio Prudente teria que ser vermelho, preto e branco, o que poderia inibir os não-são-paulinos.

O novo escudo do Grêmio Prudente deve entrar em campo pela primeira vez nessa quarta-feira, quando o clube enfrenta em casa o Rio Branco.

E enquanto isso, na Grande São Paulo, o Sport Club Barueri faz campanha intermediária na Série A3 do Paulista.

A oposição e a adulteração do Bolsa Família

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Assaz interessante notícia veiculada pela Agência Brasil dando conta de que uma proposta do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), hoje cotado para ser vice de Serra na disputa presidencial, foi aprovada pela Comissão de Educação do Senado instituindo um benefício adicional ao programa Bolsa Família. O projeto prevê um ganho a estudantes da rede pública de acordo com o desempenho escolar, a ser regulamentado pelo governo federal.

A respeito, duas observações. A primeira sobre a consolidação da mudança de postura dos demo-tucanos em relação ao benefício. No primeiro mandato de Lula, ele era atacado e a tropa de elite da mídia cansou de qualificá-lo como “bolsa-esmola” ou termos depreciativos do gênero. Pra quem não lembra, é só ler esse e artigo do sábio chefão global Ali Kamel, que afirmava categoricamente se o programa “um tiro no pé. Mas que rende votos. Eis, talvez, a origem da insensatez”. O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (DEM-BA), analisava assim as chances de reeleição de Lula no ano seguinte. "Tendo perdido todas as bandeiras, o governo só tem uma âncora, que é esse negócio do Bolsa Família, um programa meramente assistencial."

Mas já na aleição de 2006 o discurso da oposição e de seus aliados começou a mudar. O candidato Geraldo Alckmin, além de negar o passdo privatista, também jurou de pés juntos que iria “melhorar” o Bolsa Família. Aliás, passou a reivindicar a paternidade do benefício, atribuindo-o a FHC e a ACM em dado momento. Uma comentarista política célebre por chamar o benefício de "mensalinho" em uma mesa televisiva de debates noturnos, passou a dizer que a mãe do programa era Ruth Cardoso, quando da morte da ex-primeira-dama. Claro que existem exceções como Jarbas Vasconcelos, o mais tucano dos peemedebistas, que disse no ano passado que "o Bolsa-Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo".

Agora, a proposta de Jereissati segue no intuito de “melhorar” e “aprimorar”. Pra quem não sabe, o Bolsa Família trabalha com condicionalidades para que a pessoa possa receber o benefício. Deve haver frequência mínima dos filhos na escola, para evitar a evasão escolar e impedir que as crianças trabalhem, financiando o acesso à educação de crianças e adolescentes. Outra condicionalidade é a obrigação de se vacinar os filhos, fazer pré-natal se a mãe de família estiver grávida, e realizar o acompanhamento pós-parto. É uma forma de divulgar e facilitar o acesso do cidadão à saúde pública.

No entanto, o que Jereissati estabelece não é uma condicionalidade, mas sim introduzir a meritocracia para que se receba um benefício. Um completo absurdo, ainda mais considerando que a criança ou o adolescente recebe um encargo e uma responsabilidade cruel, a de ter que ir bem na escola para trazer o tal bônus pra casa.

Na prática, a proposta traduz a visão tucana da educação, refletida por exemplo em São Paulo, onde professores têm que ser submetidos a avaliações e provas se quiserem ter seus proventos aumentados. É uma forma de desobrigar o Estado da sua função de dar condições mínimas ao profissional do ensino e ao estudante, cobrando-o e fazendo sua avaliação por um suposto mérito. Essa visão transplantada para o Bolsa Famíliacria uma distorção perigosa da ideia original, que os partidos da base governista não caiam na tentação fácil de “anabolizar” o benefício adulterando seu conceito.

Os últimos brancos do Brasil

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Excelente o vídeo em que Chico Buarque fala sobre racismo. Ele demonstra o patético da hipocrisia de classe média ao lembrar, singelamente, que ninguém é branco nesse país. E essa miscigenação é nossa maior vantagem no planeta. No vídeo, Chico usa uma frase fantástica - e sarcástica:

- Se a Xuxa não casar com o Taffarel, acabam-se os brancos no Brasil.

'Título mundial de futebol não enche barriga'

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Esse era Luiz Inácio Lula da Silva às vésperas da Copa da Espanha, em 1982. Presidente do Partido dos Trabalhadores e candidato ao governo de São Paulo, o político avisava ao jornal, sem medo de nenhum Larry Rohter, que ia beber "muita" cerveja vendo os jogos da seleção. Naquele ano, infelizmente, o time comandado por Telê Santana, com Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico no meio-campo, empolgou mas não ganhou. Lula também perdeu a eleição para Franco Montoro, do PMDB, mas viu seu Corinthians vencer o Campeonato Paulista com Sócrates e a jovem revelação Casagrande. Vinte anos depois, na Coréia e Japão, o Brasil garantiria o pentacampeonato contra a Alemanha, com gols de Ronaldo Nazário, hoje no Parque São Jorge. E, no final do ano, Lula chegaria à Presidência da República. Mas seu Corinthians perderia a decisão do Campeonato Brasileiro para o Santos, de Robinho, Diego, Elano & Cia.

segunda-feira, março 01, 2010

Água que manguaça bebe

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Rodger Rogério é um cantor, compositor, ator e professor de Física de 66 anos. Integrou o mítico grupo Pessoal do Ceará no início dos anos 1970, com a cantora Téti e Ednardo (na foto ao lado, ele está à esquerda). Eles foram da mesma safra dos também cearenses Fagner, Belchior, Amelinha, Fausto Nilo, Petrúcio Maia e Clodo, entre muitos outros. O LP "Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem", lançado pela gravadora Continental em 1973, é um clássico disputado hoje nos sebos. Com Ednardo e Téti, Rodger canta coisas como "Cavalo ferro", de Fagner e Ricardo Bezerra. Ele também participou do festival "Massafeira", em 1979, movimento coletivo que fez apresentações no Teatro José de Alencar e foi outro marco da música cearense - os 30 anos do evento foram comemorados com um show em maio do ano passado.

No blogue Do Carvalho, li uma passagem manguacística contada por Rodger Rogério (à esquerda, em foto recente). O bar Estoril sempre foi uma referência em Fortaleza. Nalgum fim de noite perdido nos anos 1970, Rodger e outros manguaças chegaram ao local quando o garçom Sitônio já guardava as mesas e cadeiras. Tratou logo de avisar os ébrios que o bar estava fechando e não venderia mais nada. "- Mas Sitônio, só três vodkas enquanto tu guarda as cadeiras, rapaz!", implorou Rodger. "- Tudo bem, vou trazer as vodkas e a conta logo". "- Peraí, Sitônio, arruma as coisas com calma. Traz três vodkas pra cada um e um Crush por rodada". O garçom aceitou e os manguaças beberam suas três doses com refrigerante. Porém, quando a conta chegou, só constava o valor a ser pago pelos três Crush. "- Que é isso, Sitônio? Num vai cobrar as vodkas não, rapaz?". "- E vocês acham que botei vodka? Tomaram muito foi água misturada com laranjada. E do jeito que estão, nem perceberam. Agora paguem e vão simbora!".

Gente fina é outra coisa

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Outro dia li alguém dizendo que o presidente Lula estaria trocando a branquinha por uísque (há uma confirmação no último parágrafo dessa matéria aqui). Porém, pode ser que a tal bebida seja essa aqui:

Encontre sua idade pela matemática da cerveja

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1 - Escolha o número de vezes que você gostaria de tomar cerveja na semana (mais do que 1, menos que 10);

2 - Multiplique o número por 2;

3 - Adicione 5;

4 - Multiplique por 50;

5 - Se você já tiver feito aniversario esse ano, some 1760. Se não tiver feito, some 1759;

6 - Agora subtraia desse número o ano em que você nasceu;

7 - Você agora deve ter um número de três dígitos. O primeiro digito foi o número que você escolheu. E os próximos dois números são a sua idade.

Obs.: 2010 é o único ano em que isso vai funcionar.

Palmeiras submerge diante do (ex-)lanterna Rio Claro

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Para alegria da eminência parda do Futepoca e de Roque Citadini, o Palmeiras perdeu do Rio Claro por 1 a 0. Foi o primeiro gol sofrido nas três partidas, mas bastou para impingir a primeira derrota sob o comando de Antônio Carlos Zago, em sua terceira apresentação como treinador.

Sem conseguir tocar a bola por causa do alagamento do gramado, o Palmeiras não jogou pior do que o time da casa, mas esteve pior, com menos capacidade do que nos outros jogos.

O fato marcante da partida foi mesmo a chuva, por isso o título com a referência, digamos, naval.

Na quinta-feira, 25, um temporal deixou uma vítima fatal. Na ocasião, foram 65 milímetros durante a madrugada, a maior parte concentrada na primeira meia hora.

Sobre a pluviosidade deste domingo, 28, não encontrei informações. Pelo jeito, foi menos grave. Mas o gramado não aguentou a sequência de dias chuvosos.



Seria maldade dizer que o time jogou como na época de Muricy Ramalho, porque a culpa não é do ex-técnico do time. Ocorre que não havia santo que fizesse a bola rolar no gramado, e a alternativa foi alçar bolas à área rioclarense.

Com Wendel e Eduardo em vez de Figueroa e Armero, a ordem era jogar a bola para a área pelo alto. Tudo na esperança de que Robert estivesse em uma fase melhor do que a do Obina.

Diego Souza esteve um pouco apagado. Pierre e Márcio Araújo, os volantes titulares, se ausentaram por terceiro cartão amarelo e contusão, respectivamente.

O atacante Osny fez o gol da vitória do time da casa aos 34 do primeiro tempo. Ele se livrou da marcação e foi à área para marcar. No começo do segundo tempo, quase ampliaram Souza (contra o patrimônio) e uma bola na trave.

Com o resultado, o alviverde garantiu ao Rio Claro largar a incômoda lanterna do campeonato. O feito à lá Robin Hood tem na chuva a culpada da vez. O Paulista fica cada vez menos viável para o Palmeiras por tropeçar demais.

domingo, fevereiro 28, 2010

Santos 2 X 1 Corinthians - Neymar não se abala

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“Um homem de moral não fica no chão”, já diria o compositor Paulo Vanzolini na música que tem o célebre refrão “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. A canção (que citei em outro contexto em um post do Edu) me veio à cabeça quando o garoto Neymar, sem paradinha, perdeu pênalti contra o Corinthians aos 7 do primeiro tempo. Antes da falta, ele mesmo havia desperdiçado uma chance preciosa frente ao goleiro Felipe, aos 2 de jogo. Mesmo assim, tinha a convicção de que o moleque não ia esmorecer.

O garoto tem talento, mas tem algo a mais: personalidade. Era possível perceber isso em sua estreia contra o Oeste, no ano passado, quando já trazia uma carga grande nos ombros. É lépido, rápido, frágil, mas parece veterano quando pega na bola. E foi como um jogador mais velho que matou a redonda passada por Marquinhos. Protegeu como um atacante mais pesado, virou e bateu como quem está acostumado a ir pras redes. Como um... Ronaldo? Não, como Neymar mesmo.

O gol era merecido. O Corinthians recuava com seus volantes à frente de zaga e Ganso e Marquinhos se revezavam na armação de jogadas mais atrás, mantendo a movimentação do ataque mesmo com a ausência de Robinho. O Timão foi empurrado para a intermediária e, não fosse uma linda jogada de Dentinho, não teria ameaçado uma vez sequer a trave santista. Já o Peixe exigia o arqueiro corintiano que fez dois milagres além do pênalti também milagroso.

Veio o segundo tempo e já era de se esperar um Corinthians mais adiantado, tentando marcar o Santos na saída de bola. Mano Menezes tentou dar mais mobilidade à equipe sacando Alessandro e Ralf e colocando Moacir e Jucilei. Mas foi o Peixe que marcou com André, numa linda jogada de Marquinhos, que fez sua melhor partida na Baixada, e em uma assistência fatal de Neymar aos 14.



Mesmo jogando mal, o Corinthians diminuiu a vantagem em uma jogada isolada de Ronaldo, que Dentinho completou aos 24. Mas a volúpia paulistana foi brecada com a expulsão de Moacir, praticamente jogado às feras por Mano Menezes, ou à fera, já que teve a incumbência de marcar Neymar. Como já disse aqui em várias ocasiões, o Santos é uma equipe leve que chama faltas e o pesado Timão abusou delas. Se o time da Vila soubesse aproveitar melhor as bolas paradas, o jogo poderia ter sido decidido mais cedo.

Na seqüência do lance de Moacir, Roberto Carlos foi expulso por simular um pênalti, numa marcação que os corintianos certamente podem reclamar, já que é puramente interpretativa. Dá papo de boteco, assim como a cotovelada que Dentinho deu em Pará, que também fazia sua melhor partida no Santos em 2010. Para muitos entendidos e não-entendidos de arbitragem, era jogada para expulsão, que aconteceria antes do primeiro tento corintiano.

Mesmo com dois a mais, o ataque santista se perdeu entre o relaxamento e uma relativa soberba. Mas não foi só isso. Ironicamente, a linha de impedimento que o Corinthians tanto havia tentado e não conseguido fazer na primeira etapa, passou a ser bem sucedida sem os dois laterais que quase sempre davam condições para os atacantes do Santos. André lembrou Kléber Pereira tal foi o número de vezes que ficou sem condições de jogo. Parece que os meninos jogam melhor quando marcados.

Assim a partida terminou 2 a 1 e se o santista pode ter ficado irritado com a sopa que a equipe quis dar para o azar, não pode esquecer que é a nona vitória consecutiva do time e a liderança no campeonato está mantida, com quatro pontos de vantagem sobre o vice Santo André. Mais um teste pelo qual o Santos passou.

*****

Ronaldo saiu irritado dizendo que jogadores santistas fizeram “gracinhas”. Não sei o que ele entende por “gracinha”, mas não foi o próprio atacante que deu rolinhos desnecessários no jogo de quarta-feira, quando sua equipe tinha um jogador a mais, de acordo com depoimento corintiano? Quando pode e quando não pode fazer gracinha? Ou Ronaldo está se credenciando a ser comentarista de arbitragem junto com Rogério Ceni?

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Nos primórdios do PT

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Com 30 anos recém-completos, o Partido dos Trabalhadores já acumula uma interminável lista de histórias folclóricas. Umas delas ouvi hoje: em uma cidade do Vale do Paraíba, o diretório local realizava sua primeira grande campanha de arrecadação de roupas, que seriam destinadas a um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Foi então que um dos militantes do partido, ao chegar fora de hora em casa, foi expulso pela esposa, que jogou todas as suas coisas na rua. Sem ter para onde ir, juntou as trouxas e rumou para a casinha que servia como sede do PT.

No dia seguinte, acordou cedo e saiu procurando alguma pensão ou casa de amigo que o abrigasse uns dias. A secretária do partido apareceu logo depois, sem saber que o infeliz militante havia pernoitado ali. Nisso, uma kombi estacionou e o motorista perguntou onde estavam as roupas para o MST. A secretária apontou o único quarto da casa, onde o rapaz logo recolheu todas as roupas que encontrou. Depois de carregar a kombi, partiu para o acampamento, na outra ponta do estado, quase divisa com o Mato Grosso.

- Cadê as minhas roupas?, perguntou, ao voltar da rua, o pobre militante expulso de casa pela mulher.

- Suas roupas? O que tinha aí foi tudo para o MST, respondeu a secretária.

O resultado é que a segunda - e extraordinária - campanha de arrecadação do PT local foi de roupas para o tal militante...

Cara feia no quem é quem

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Por Moriti Neto

Se eu queria saber quem é quem no elenco do São Paulo antes dos jogos contra Palmeiras e Once Caldas, agora tenho as respostas. A partida desta quinta, pela Libertadores, foi óbvia para os tricolores (considerado o nível médio de atuação no ano). Ou seja, terminou com derrota e o time jogando mal.

Apesar de no início os colombianos não terem pressionado os brasileiros, o Tricolor não teve competência para resolver a contenda na primeira etapa. O São Paulo até tocava bem a bola e dominava o meio-campo, mas não traduzia a coisa em chances de gols. Então, num dos poucos lances ofensivos com objetividade, aos 33 minutos, o volante Jean fez jogada individual e sofreu falta. Rogério Ceni cobrou, a bola desviou na barreira, e inaugurou o placar na cidade de Manizales. O goleiro chegou a 11 gols pelo Time da Fé no torneio continental e se tornou o maior artilheiro do clube na competição.

Logo depois do tento de abertura, Marcelinho Paraíba teve chance pela esquerda, batendo forte, próximo da trave direita do goleiro Martinez. Aí, o Once Caldas resolveu dar as caras. Nos minutos finais, Núñez chutou uma falta para boa defesa de Ceni, e o atacante Dayro Moreno concluiu com violência, em jogada pela direita, exigindo outra intervenção do Capitão. Era o prenúncio do que ocorreria no segundo tempo.



Intervalo passado, e o Once Caldas, aos 4 minutos, aproveitou um vacilo de Jorge Wagner em cobrança de lateral e um presentão de Marcelinho Paraíba, que deixou a bola para Vélez. Uribe cabeceou e estufou as redes. Era o empate.

Com o gol, os colombianos foram para cima e Cárdenas mandou uma bomba no travessão são-paulino. E, aos 26 minutos, Moreno passou por Jean, tocou a bola entre as pernas de Miranda, e bateu no canto: golaço e merecida virada colombiana.

É certo que o técnico interino Milton Cruz demorou para alterar a equipe, mas Jorge Wagner, Marcelinho Paraíba e Cicinho estiveram péssimos na partida. Xandão, que eu começava a ver com bons olhos, disse até que estava queimando minha língua, já que critiquei sua contratação, e Miranda foram horríveis nos 45 finais, mostrando que a fase da defesa – esteio do time nos últimos anos – é de doer. Fora Rogério, Cléber Santana foi o único que se salvou. Rodrigo Souto, que estreou, jogou pouco para ser avaliado. Ao fim das contas, no quem é quem, o Tricolor dá mostras de que não tem cara ou de que as de que dispõe são um tanto feias.                

Robert faz mais dois, e Palmeiras goleia Flamengo-PI

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Até que enfim um jogo fácil. Na partida de volta da primeira fase da Copa do Brasil, o Palmeiras aplicou um 4 a 0 sobre o Flamengo-PI. Diferentemente da partida de ida, quando uma magérrima vitória simples não impediu o jogo de volta, na quinta-feira, 25, o time logo abriu o placar. No primeiro tempo, já estava 3 a 0.

Considerando-se que foi há oito dias que o Palmeiras tomou quatro gols do São Caetano, o saldo moral que fica é simples: não passou a ressaca. Tanto assim que o público no estádio não chegou a 7 mil pagantes. Claro que o frio contribuiu, mas todo torcedor preferia que o jogo tivesse sido evitado com uma vitória mais volumosa na primeira partida.



Sem sentir a falta de Cleiton Xavier, aos 2 minutos, Robert abriu o placar, em cobrança de pênalti sofrido por Deyvid Sacconi. Depois, em escanteio, Leo aproveitou a lambança do goleiro e a sobra de Danilo. É bem verdade que o autor do gol cabeceou bola e o adversário, deixando os dois sangrando. O terceiro saiu fácil em troca de passes de Diego Souza e Deyvid, que encontrou Robert para marcar seu segundo.

O quarto gol foi o mais bonito. Mas não é só pela plástica que é o mais difícil de se repetir. O técnico Antônio Carlos tirou Diego e colocou Ivo, meia trazido do Juventude (RS). Ele fez uma boa jogada pela esquerda e cruzou (chutou, porque foi forte) para o volante Edinho acertar um voleio. Como foi aos 29, foi só esperar acabar.

O time teve outras chances de gol, mas não fez falta.

Do lado do Flamengo-PI, o destaque Jardel, de três a sete quilos mais magro, a depender da fonte, nem chegou a participar. Nem por isso dispensou a ação do departamento médico em pleno banco de reservas. Deve ter sido a mistura de amendoim com cerveja sem álcool vendidos no estádio.

A vitória era esperada. A goleada, obrigatória. Agora é o Paysandu, com infinitamente mais tradição do que o time de Teresina-PI. Enfrentar o Papão em Belém exige mais cuidado e futebol.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

De virada é mais gostoso e dá caráter

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Falta perto do meio campo, bola jogada para a área. Roberto Carlos e William não cortam de cabeça. Chicão vacila e deixa Cauteruccio receber livre para finalizar quase na pequena área. Gol do Racing do Uruguai, no segundo de número 56 da participação corintiana na Libertadores da América de 2010, em pleno Pacaembu.

Nem o mais amargo secador palmeirense imaginaria começo pior para a jornada alvinegra no torneio que é o principal objetivo do ano de seu centenário. “Ih, agora o time se desespera, a torcida começa a xingar antes do fim do primeiro tempo, e já era esse jogo”, pensou o periquito de mau agouro, não sem o apoio de fatos passados.

Mas não foi assim. O Coringão se manteve firme e tranquilo, tocando a bola e esperando os espaços. E a Fiel fez jus ao nome, apoiando com paciência.

Com isso, Elias, melhor homem em campo, empatou e desempatou a partida, com um gol em cada tempo. O primeiro teve um lindo passe de letra de Tcheco, que também foi muito bem e parece ter mais recursos do que eu imaginava. O outro veio dos pés de Souza, que entrou bem na segunda etapa para brigar no meio dos zagueiros e deixar Ronaldo mais livre para atrair a marcação.



A virada aconteceu, mas o jogo foi bem mais difícil do que inicialmente se imaginava. O gol no início permitiu ao Racing se dedicar com mais afinco à retranca, que o Timão teve dificuldade de furar. Parte do problema vem da falta de jogadas pelos lados, com pouca participação de Roberto Carlos e Alessandro (substituído por Jucilei, que foi bem, como quase sempre). Outro ponto foi a atuação apagada de Jorge Henrique, talvez pouco afeito à posição de meia que lhe foi reservada por Mano Menezes.

Pelo que entendi, a intenção de Mano é jogar num 4-4-2, com Tcheco na meia direita e Danilo na esquerda, com mais liberdade. JH desempenhou o segundo papel, mas não conseguiu sair da forte marcação uruguaia. Outra característica do esquema parece ser dar mais liberdade para Elias aparecer como elemento surpresa para infiltração, contando com a proteção de Tcheco, jogada que gerou os dois gols em boas tabelas pelo meio. Mas tudo isso ainda precisa de muito entrosamento, especialmente entre meias e laterais.

E Ronaldo? Teve atuação discreta e reclamou da falta de ritmo. Mas mesmo assim, participou das duas jogadas de gol, meteu rolinhos em seqüência em dois jogadores do Racing (em jogada pouco útil) e fez um lance muito legal quase no final: parou na entrada da área, deu uma pedalada, e passou no meio de dois zagueiros, quase marcando um golaço. Ainda não entendi como aquele cara daquele tamanho passou naquele espacinho.

No geral, gostei principalmente da calma e paciência do time para se recuperar, características marcantes da personalidade de Mano Menezes. Se for pra ver ponto positivo em levar gol no comecinho, começar com uma vitória suada dessas no mínimo ajuda a baixar a bola e aumentar a seriedade da galera – jogadores e torcida.

Primeira dama

Registro a presença de diversos torcedores ilustres no Pacaembu. Estiveram lá a melhor do mundo Marta, a rainha do basquete Hortência, a também monarca das embaixadinhas Milene, acompanhada do príncipe Ronald, filho do Gordo, and last, but not least, a primeira-dama brasileira Marisa Letícia. Como diria Ibrahim Suede, sorry periferia!

Renda e conforto

A diretoria do Corinthians botou os preços dos ingressos na lua, deixando descontente grande massa de torcedores. O mais baratinho, de R$ 50, foi todo vendido antecipadamente aos sócios-torcedores, restando ao pessoal das bilheterias ingressos de R$ 200 e R$ 300, além do setor VIP, de R$ 500. Mesmo assim, mais corintianos compareceram à estréia que flamenguistas ao Maracanã. A renda então, nem se fala, como mostra comparação feita pelo parceiro Marcelo, do Vertebrais:

Flamengo – 24.301 pagantes e R$ 728.323,00 de renda
Corinthians - 31.035 pagantes e R$ 2.181.742,00 de renda

O Santos, que está cobrando R$ 80 no ingresso mais barato para o clássico, parece que gostou da idéia. No mínimo curioso ter tanta gente disposta a pagar valores europeus para entrar num estádio desorganizado e com tão pouco conforto.